No âmbito do Projeto Nas linhas da serra d'Ossa, Eu leio, deixámos-te um texto sobre esta temática.

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Carta da Serra d’Ossa

 

Olá, chamo-me Serra d’Ossa e neste curto tempo que uma fada me deu o dom para escrever, vou-lhes contar a minha história. Há muitos anos atrás (280 milhões) ainda vocês seres humanos não povoavam o nosso planeta, eu nasci. O meu interior é constituído, essencialmente, por xistos, rochas metafóricas que sofreram aumentos de pressão e de temperatura e se tornaram muitos diferentes das que lhe deram origem. Fui durante muitos anos a Mãe d’Água do Alentejo Central, do meu ventre escorriam muitos ribeiros e muitas nascentes, por isso dava de beber a tanta gente. Um escritor famoso (Eça de Queirós) até me chamou a serra das Mil Fontes e uma lenda antiga contava que na Herdade das Cortes havia tantas fontes como dias tem ano.

Mas o que os homens se haviam de lembrar, para minha desgraça, algumas décadas atrás, tiraram a minha roupa que demorou muitos séculos a ser feita, para me vestirem com uma de milhões de eucaliptos, os quais sugam toda a minha vitalidade e estão continuamente a mudarem-me o fato e até já aconteceu aumentarem-me o fato! Mas a minha desgraça não fica por aqui, antes de me fazerem isto, tinha imensos amigos que viviam sobre mim e me faziam companhia.

Onde estão as milhentas aves que cantavam para mim lindas cantigas sobre outras serras e outos lugares? Onde estão tantos rouxinóis que à noite me diziam que me amavam? Onde está toda aquela variedade de flores que coloria e perfumava todas as minhas encostas?

Por favor, eu preciso da vossa ajuda, libertem-me desta opressão e tragam os meus amigos de volta. Nem que para isso tenham que transmitir a minha carta aos vossos filhos e aos vossos netos.

 

In Malta, António Gil e Mirinha, Marco, Guia dos Circuitos de Natureza da Serra d’ Ossa, Associação de desenvolvimento Montes Claros, 2001, Borba.